sábado, 11 de janeiro de 2014

O espírito do escravo

Quando acabei de ver "12 Anos Escravo" pensei que este último filme de Steve McQueen contém, na temática, muito do que já explorara nos seus dois primeiros filmes: "Fome" e "Vergonha". Levando à letra estes dois títulos, repare-se como os conceitos 'fome' e 'vergonha' estão bem representados em "12 Anos Escravo". Os tormentos do escravo à força Solomon Northup comprovam - se necessário fosse - que a escravatura foi uma infâmia histórica que envergonhou a raça humana.
Quanto ao filme propriamente dito, esta última obra de McQueen já não ostenta um certo exercício de estilo estético que os dois primeiros filmes revelavam. Aqui o olhar do realizador é mais humano e menos estilizado, porque haveria pouca margem de manobra para estilizar a escravatura. "12 Anos Escravo" é um filme corajoso, impiedoso e que abre feridas ainda não totalmente fechadas acerca do racismo na livre e democrática América. 
Quanto a mim, o momento mais belo e possante do filme: quando vemos um plano fixo de Solomon no meio de outros escravos negros a cantar. No início ele mostra um rosto gélido, sem expressão, enquanto se ouve o cântico. Aos poucos, como se estivesse a fazer um esforço sobre-humano, Solomon começa a  acompanhar o canto e, progressivamente, canta com mais e mais intensidade (e raiva). Uma sequência sublime de emoção que prova o poder libertador da música e que sintetiza todo o espírito do filme. 

2 comentários:

Andreia disse...

Sem dúvida, um retrato que envergonha a humanidade. Mas o facto de ser inspirado numa vida real é que sem dúvida nos faz reflectir sobre esse homem. A esperança é a última a morrer.

Hugo disse...

Estou curioso para conferir.

Abraço