segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

A televisão e o cinema


É recorrente as televisões portuguesas programarem filmes de qualidade para horários improváveis (muitas das vezes, madrugada dentro).
Há muitos anos atrás, a RTP fazia verdadeiro serviço público quando passava, às quartas-feiras à noite (21h30), uma sessão de cinema. Filmes de qualidade em horário nobre com apenas um intervalo pelo meio. Isto já para não falar da programação cinéfila de cinema clássico da RTP2, que teve o seu auge até meados da década de 90. Desde que os canais privados entraram no mercado, a programação de cinema de qualidade desmoronou-se.
Desde há uns anos a esta parte, a programação das televisões em horário nobre tem sido monopolizada com telelixo: telenovelas aos molhos, futebol e programas medíocres de entretenimento (reallity shows e afins). E, claro, intervalos infindáveis de publicidade maçuda (um intervalo comercial da TVI dura, em média, 20 intermináveis minutos).
Por isso os filmes, séries e programas de informação de qualidade são relegados para secundaríssimo plano, quase sempre depois da meia-noite. Claro que há alternativas: televisão por cabo e clubes de vídeo. Só que há dezenas de milhares de famílias portuguesas que não podem pagar televisão por cabo ou ser sócio de videoclubes (e mesmo estes têm uma oferta muito limitada). E assim estupidificam-se, de forma passiva, assistindo à boçalidade televisiva diária. A nova televisão digital e os novos pacotes multimédia (Zon e Meo) podem atenuar a nefasta formatação da televisão actual e alargar as possibilidades de visionamento do espectador, mas estes produtos vão levar muitos anos a generalizar-se por toda a população.
Como vivo perto de Espanha habituei-me a ver televisão, desde muito cedo, do país vizinho. Durante anos vi clássicos de aventuras ao sábado à tarde e durante anos vi, pela primeira vez, verdadeiras obras-primas do cinema em horário nobre. Era o caso do excelente programa "Qué Grande es el Cine!" (exibido entre 1995 e 2005) do jornalista e realizador José Luis Garci (na imagem).

Durante esses anos, todas as segundas-feiras à noite depois de jantar, era exibido um filme clássico e depois comentado durante 40 minutos por parte de críticos de cinema e realizadores. Um notável serviço público (e até pedagógico decorrente do debate) quase impensável na televisão portuguesa. Foi neste programa que vi grandes filmes de John Ford, Orson Welles, Murnau, Charles Laughton, Hitchcock, Capra, Truffaut, Nicholas Ray, etc. Aposto que, nos 10 anos que durou o programa, este contribuiu para formar o gosto cinéfilo de muitas pessoas (uma geração?) para a verdadeira arte do cinema.
Era com critérios destes que se deveria reger toda e qualquer televisão pública.

3 comentários:

Luís Mendonça disse...

Exacto. E é preciso fazer alguma coisa por isso...

http://peticao-rtp2-cinema.blogspot.com/

joao amorim disse...

mas os filmes não eram dobrados? é que isso é um pecado grande demais...

existe sempre a alternativa do download ilegal... ainda assim é difícil encontrar cinema europeu, pelo menos com legendas (mesmo em inglês)...

cumps

Álvaro Martins disse...

jp amorim, legendas em inglês arranjas quase sempre excepto alguns casos raros. Agora em português...