terça-feira, 29 de dezembro de 2009

O bom e o mau em "Avatar"


Finalmente, vi "Avatar". Não vou entrar em considerações sobre se o filme de James Cameron é cinema revolucionário por causa da utilização do 3D (a propósito deste post). O que sei é que "Avatar" é um marco no cinema pela forma como a tecnologia digital desempenha um papel preonderante na linguagem cinematográfica (apesar de importantes aspectos fracos apontados mais à frente). De beleza visual e superioridade técnica, portanto, “Avatar” está cheio. Tem sequência visuais de suster a respiração, e aí o mérito é de James Cameron que imaginou esse fabuloso planeta Pandora - concebido em imagens pela mais avançada empresa de efeitos especiais, a WETA Digital de Peter Jackson.
É inegável o nível de excelência tecnológica que Cameron conseguiu atingir para que pudesse concretizar esta magnífica aventura visual. É o próprio realizador que conta: “Sonhei criar um filme assim, ambientado num outro mundo, repleto de perigos e beleza, desde que era um menino que lia revistas de ficção científica, e desenhava monstros e extraterrestres na aula de matemática”. "Avatar" cumpre, pois, a sua função de cinema-espectáculo em tons de claro blockbuster comercial, percebendo-se o porquê de ter demorado 12 anos a conceber e os 250 milhões de dólares de custo. São duas horas e meia de deleite visual, magia e puro entretenimento (nunca o 3D foi tão deslumbrante e eficiente como neste filme).
Mas o cinema, obviamente, é mais do que o conjunto destas características eminentemente técnicas. O argumento de "Avatar" é claramente polvilhado de lugares-comuns e de total previsibilidade narrativa. Louva-se a James Cameron a crítica directa aos históricos massacres levados a cabo por europeus e norte-americanos aos povos indígenas de todo o mundo. Louva-se a preocupação na defesa dos valores ambientalistas e a mensagem subjacente. Mas é nítida a sensação de que “Avatar” é uma mistura de “O Último dos Moicanos” tecnológico do século XXI, com pitadas românticas de “Pocahontas”, e o patriotismo heróico de “Braveheart".
Li numa entrevista a James Horner (compositor da música, já lá vamos) em que este afirmava que o público não está preparado para propostas vanguardistas nem ideias muito inovadoras. Salta à vista esse facto no filme. A história é orientada segundo uma lógica dialéctica entre o bem e o mal, os opressores e os oprimidos, uma inevitável relação de amor pelo meio, e o equilíbrio entre cenas de acção desenfreada com cenas de contemplação. O final em registo de previsível "happy end" ajuda a solidificar a ideia que jamais passou pela cabeça do realizador e dos produtores a exploração de um "script" arrojado e original.
Outro ponto menos conseguido do filme é a música. James Horner, compositor de bandas sonoras de Hollywood há 30 anos, conhece bem a fórmula do sucesso imediato. Das dezenas de trabalhos já realizados, compôs a música para "Titanic", "Braveheart", "Apocalypto", "Troy" e "Apollo 13". Ou seja, filmes épicos com importante elementos heróicos. Não quer dizer que a música de "Avatar" seja má, mas é totalmente previsível e cheia de lugares-comuns. Mais: parece que James Horner se plagia a si próprio, pela forma como utiliza sempre os mesmos elementos musicais e instrumentais (flautas e cantos para dar um tom exótico, percussões furiosas para cenas de acção...). Neste aspecto, o compositor Howard Shore, na saga "O Senhor dos Anéis", soube melhor do que ninguém perceber as nuances dramáticas da histórica épica. Por outro lado, o trabalho de sonoplastia e de efeitos sonoros é irrepreensível.
O mais surpreendente e totalmente desnecessário: a canção que surge no final do filme, já a acompanhar os créditos finais. Lembram-se da famosa canção "My Heart Will Go On" cantada por Celine Dion em "Titanic"? Pois bem, James Horner propõe um reedição de uma cançoneta lamechas idêntica (não, pior) para o fim do filme. Borrou totalmente a pintura.
Em jeito de balanço final: "Avatar" não é uma obra-prima do cinema. É um filme que ficará na história pelo uso revolucionário da tecnologia digital em 3D (que provavelmente inaugurará uma era de novas produções do género) e pelo puro entretenimento de qualidade que provoca no espectador.
PS - Ao fim das duas horas e meia de visionamento senti uma ligeira dor de cabeça devido ao 3D.

12 comentários:

Priscilla Fontoura disse...

concordo plenamente contigo, fui vê-lo ontem. a música dos créditos é uma nódoa...

joao amorim disse...

vi-o à pouco tempo. não ouvi a música dos créditos.

não queria ver o filme, mas de entre os que havia, até achei que quem escolheu, escolheu bem (passam muito poucos bons filmes na maior parte dos cinemas hoje em dia).

a inicio custou-me um pouco ve-lo, mas assim que entrou na fase da floresta, deixei-me perder lá dentro, e esqueci-me completamente de que estava a ver um filme...

não digo que a historia fosse optima, era sem duvida previsível (já sabia como iam acontecer muitas coisas, antes de realmente acontecerem, mesmo as mais "imprevisíveis") mas não deixei de gostar. Diria que fiquei enfeitiçado de tal forma que não me importei com o argumento nem música (o que é raro).

Não me emocionou, mas agarrou-me, fascinou-me. Não é o melhor filme da década, nem sequer é o melhor filme do ano, longe disso, mas não deixa de ser um bom filme.

Como tal concordo com o que disse, pelo menos em parte.

Cumps

Pedro disse...

Ía no outro dia vê-lo ao cinema, mas um contratempo de ultima hora impediu-me o ir ver.

Mas acho que um dia destes o hei-de ver porque quero experenciar o 3d.

JPM disse...

Bom eu achei isto bastante monótono mesmo no aspecto visual.

O sentido de surpresa e encantamento que o Abismo tinha, por exemplo, não está presente.

Em termos de alegoria o Miyazaki é mais eficaz mesmo nos seus filmes menos inspirados.

O 3D torna-se cansativo num filme tão longo, para além de não chegar minimamente à criatividade e imaginação do Coraline - de longe o melhor 3D deste ano.

No uso de criaturas digitais (não humanas) o King Kong do Peter Jackson também me pareceu mais emocionante.
Em suma, o Cameron decepcionou-me um bocadito.

it was RED - Para quem gosta de cinema disse...

Finalmente alguém criticou de verdade o filme. Já havia lido outros comentários sobre a película os quais também criticavam o roteiro, no entanto, esses pareciam passar a mão na cabeça de James Cameron; era como se os escritores dissessem "o roteiro está uma bosta, mas os efeitos especiais são uma maravilha; não te preocupas, pois tu fizeste um filme genial".

Parabéns pelo olhar crítico. Abraço!

Marcos Ribeiro disse...

Oi! Primeiramente obrigado pela visita ao Epipocando...já me tornei um seguidor do seu ótimo blog!

Sobre o custo de produção de Avatar, realmente ele ficou em 250 milhões de dólares, no entanto, seu custo total, incluindo ai marketing, o total da conta saiu na bagatela de 500 milhões de dólares, fazendo de Avatar o filme mais caro da história (http://www1.folha.uol.com.br/folha/ilustrada/ult90u667225.shtml) Esse link é uma reportagem exatamente sobre o seu custo de produção.

Pelo que li da sua critica tivemos opiniões bem parecidas...a musica foi realmente a maior decepção.

Abraços!
Feliz ano novo!
Voltarei aqui em breve!

PortoMaravilha disse...

Eu deixei as minhas primeiras sensações, quase que imediatas no cosméticas.

Mas dores de cabeça devido ao 3D , eu também senti. Mas acho que o realizador brinca bem com o espectador. No fundo, sem os óculos não és um avatar. Sem eles só vives num só mundo.

Aí ele marca um golo !

Aí acho que o filme é um sucesso.

Paralelamente, acho que a obra tem demasiadas referências ao cinema Mundial. Quem não se lembra de Pandora, Ava Garner ?

Acho que é um grande filme porque pode ser lido e visto em vários níveis , sendo sempre entendido.

E Viva o Porto !

Unknown disse...

Como já tiveste oportunidade de ler no CIML creio que a minha opinião face a Avatar ficou bem patente. Contudo refiro mesmo que não conseguiu o feito de se tornar entretenimento por excelência, precisamente pelo facto das fragilidades narrativas e dos lugares comuns que se tornaram bastante irritantes. A título de exemplo, posso dizer que o Zombieland (modesto mas interessante filme) entreve-me bastante mais.

Álvaro Martins disse...

Ainda não vi o filme e sinceramente as expectativas que tenho são de que é uma bodega, mas se te deu dores de cabeça já fico ainda mais de pé atrás ;)

Anónimo disse...

Finalmente alguém diz aquilo que devia ser dito.
Como filme comercial não é totalmente mau, mas é o tipo de coisa que só se vê uma vez na vida, e é com companhia (nunca por vontade própria iria ao cinema ver isto).

Para além do mais o personagem principal estava muito mal caracterizado.

Pedro C. Reis disse...

Pois, estes óculos 3d ainda provocam algumas dores de cabeça. É um facto a rever num futuro próximo.

No seu global o filme acaba por ser fraquinho. A tecnologia não chega.

Anónimo disse...

Sinceramente, é um filme fraco. Como bem já disseram, toda a tecnologia não compensa os milhares de clichês.
Também fiquei com dor de cabeça, mas não foi só por causa dos óculos.

Abs,
PMCarv