sexta-feira, 7 de agosto de 2009

Michael Mann, o crítico e "Miami Vice"


Tenho em alta estima o jornalista do Público Luís Miguel Oliveira, que julgo ser um dos melhores críticos de cinema da nova geração (se é que há nova geração de críticos de cinema em Portugal: mas enfim, é ainda um jovem crítico). Tem uma vasta cultura (não só restrita à 7ª arte) e escreve muito bem. Lei-o todas as semanas e quase sempre estou de acordo com as suas análises. Como é normal em qualquer tipo de exercício crítico, o leitor pode concordar ou discordar. À crítica profissional opõe-se sempre a crítica do leitor. E de uma ou outra situação, promove-se a discussão de ideias, o combate salutar de opiniões. Isto para dizer que me, ao ler a crítica desta semana do LMO ao "Inimigos Públicos" de Michael Mann (ao qual o crítico atribui 4 estrelas), me surpreendeu o facto de, logo no início do seu texto, dizer que "Miami Vice" (de Mann) é uma obra-prima e um dos melhores filmes americanos desta década."
Apesar de não considerar o"Miami Vice" um mau filme (longe disso, mas também longe de uma obra-prima), considero que é a obra menos conseguida e interessante de Michael Mann. Muito mais interessante é o "Colateral" (2004), por exemplo, já para não falar de "Heat - Cidade Sob Pressão" (1995) ou "Manhunter" (1986). É óbvio o talento enorme de Mann na realização e na construção de universos visuais muito fortes - e nesse aspecto "Miami Vice" é também exemplo disso. A forma como a câmara capta as luzes e os cenários de Miami e se misturam com os personagens, é uma característica estimulante no trabalho do realizador (Mann é um dos cineastas que melhor partido tira das sofisticadas câmaras digitais). A fotografia de "Miami Vice" é notável, cheia de contrastes e relevância plástica, a realização competente, mas falta, quanto a mim, o sumo no meio de toda a espectacularidade estética: o argumento. O argumento de "Miami Vice" é um amontoado de lugares-comuns, formatados numa narrativa sem chama e totalmente previsível. Mesmo as sequências de acção (tiroteios) são penosamente previsíveis e primárias (longe da audácia febril que era "Heat"), resultando num objecto globalmente desequilibrado e pouco estimulante.
Mas esta é apenas a minha opinião, que por acaso não coincide com a do crítico Luís Miguel Oliveira. Quanto ao filme "Inimigos Públicos", que era o objecto principal da sua crítica gostei da abordagem crítica. Ainda não vi, mas as minhas expectativas são bastante altas (nem que seja para comprovar a qualidade dos chapéus!).

3 comentários:

Beep Beep disse...

O que, na minha opinião, tornou o "Miami Vice" melhor que o "Collateral" foi aproveitar tão bem o espaço físico, a luz, o cenário, etc, que nos conseguia fazer mergulhar na história de tal forma que os clichés eram substituídos pela tensão. As interpretações do Jamie Foxx e do Colin Farrell também ajudavam bastante. É certo que a intenção do "Collateral" também parecia ser essa, mas achei que perdia ritmo a certa altura, apesar de gostar do filme.

Francisco Maia disse...

eu acho precisamente o inverso, Beep Beep. Tanto que o Miami funcionava perfeitamente sem o personagem do Jamie Foxx, que se mostrou bastante superficial. Não que seja um mau filme mas é dos mais fraquinhos dele. Também gostei bastante de Thief mas a joia da coroa vai para Heat com Collateral em segundo, a meu ver.

Nuno Rocha disse...

Sinceramente...Axei muito fraquinho o Miami Vice...Não me cativou practicamente nada (ao contrário da série), o argumento parecia igual ao de milhentos filmes...e as personagens muito ocas e pouco interessantes no contexto geral.
Foi para mim uma grande pena...tinha uma grande expectativa ao irem buscar o tem do filme a uma série que apreciei mt quando era mais novo...