quarta-feira, 15 de outubro de 2008

A discografia completa para a ilha deserta


Se tivesse que escolher uma - e só uma - discografia completa de um músico ou grupo para levar para uma ilha deserta, qual escolheria? Uma discografia que fosse (quase) perfeita do princípio ao fim, de grandeza artística intocável, de dimensão estética inesgotável? Após várias indecisões, escolheria a discografia completa dos Dead Can Dance. Precisamente porque, quanto a mim, a discografia do grupo de Lisa Gerrard e Brendan Perry reúne estes e outros predicados de qualidade. Os seus discos são pérolas de brilhantismo sonoro de prazer ilimitado, capazes de fazer estremecer de comoção os espíritos mais severos. Será despropositado pensar em DCD no contexto de uma ilha deserta? Talvez o seja para quem não goste da música do duo... Considero a discografia dos DCD como isenta de momentos menores, uma discografia coerente e personalizada como poucas.
Ouvi pela primeira vez os Dead Can Dance com o álbum "Spleen and Ideal" (1986) e foi um choque. Na altura ouvia sobretudo música pós-punk, free-jazz e industrial; um dia um amigo gravou-me a cassete com esse disco e disse-me: "Ouve este disco, é diferente de tudo o que já ouviste até agora". Conhecia bem a editora 4AD (Cocteau Twins, Birthday Party, Clan of Xymox, Bauhaus...) mas nunca tinha ouvido DCD. A sonoridade neo-clássica (mas também neo-barroca e neo-renascentista) dos DCD, aliada à voz resplandecente de Lisa Gerrard, trouxe-me uma nova experiência estética e emocional como ouvinte de música. Experiência que se foi aprofundando com todos os restantes álbuns do duo. Na verdade, sempre achei incrível como um músico - Brendan Perry - vindo de uma vulgar banda punk, tinha conseguido transformar-se num compositor com tamanha sensibilidade artística, trabalhando com quartetos de corda e instrumentos de raiz étnica. 
Incrível também é o facto do duo nunca ter actuado ao vivo em Portugal, apesar das várias tentativas que existiram por parte de produtores de espectáculos no sentido de os trazer a este rectângulo. Já há alguns anos que Lisa Gerrard e Brendan Perry enveredaram por carreiras a solo e em separado, daí que será quase impossível ver um dia os DCD ao vivo em Portugal.

2 comentários:

Anónimo disse...

Ditto!... Ainda há uns dias, ao ver "baraka" me recordaram da sua singularidade. Não os conheço há muito tempo mas já tenho a discografia completa :)

Impensamental disse...

Dead Can Dance fantástico, com a minha Amiga Bailarina Cléau Foures, contemplei algumas representações de coreografia, onde muitas vezes misturavam partes da musica, do som de Dead Can Dance, é um som que por vezes passo quando estou a pintar transporta a imaginação assim que o corpo...