domingo, 23 de outubro de 2016

Dois novos temas de Kubik

Dois temas do novo álbum de Kubik, "Rock Extravaganza":
15 anos depois de “Oblique Musique” (2001), 11 depois de “Metamorphosia” e 5 anos depois de “Psicotic Jazz Hall” (2011), Kubik (Victor Afonso) lança o seu 4º álbum, “Rock Extravaganza” (Ed. Autor). Constituído por 10 novos temas, este disco reafirma o lugar único de Kubik na música moderna portuguesa numa nova incursão estética livre pelo seu peculiar e ecléctico universo musical. 

Na história da arte, “Extravaganza” é uma criação literária, teatral ou musical caracterizada pela liberdade de estilo e estrutura e, geralmente, incluindo elementos do burlesco, vaudeville, cabaret ou circo. O termo é derivado da palavra italiana stravaganza, significando extravagância. Este conceito foi amplamente usado para descrever um tipo de drama britânico do século XIX que se tornou popular com James Planché. Este autor definiu-o como "o tratamento lunático de um assunto poético". Kubik transportou esta premissa para a música.

Para ouvir online o disco na íntegra ir aqui.

Edição em CD limitada a 200 cópias numeradas à mão. 
Para encomendas ou contacto:
Contacto: chaplin.afonso@gmail.com ou kubik@portugalmail.pt

domingo, 24 de julho de 2016

O Homem no FB

Só para dizer que apesar deste blog esta desactivado, continuo em actividade na página do Facebook. Aqui.

quarta-feira, 16 de março de 2016

Ressuscitar com La Sinistre Main Gauche

Esta é uma música que fiz há... 26 anos. Trata-se da primeira banda sonora que compus para uma peça de teatro, da companhia Aquilo Teatro. A composição foi feita quando estudava música no ensino superior. Tinha apenas 20 anos. Na altura editei uma velha cassete dando ao projecto a designação La Sinistre Main Gauche. Mas durante muitos anos esta música ficou na penumbra pública. Até hoje. 
Resolvi resgatar estes 15 temas porque considero, modéstia à parte, que é dos meus melhores trabalhos musicais de sempre (Kubik incluído). É música circense, com fusão de world music, jazz e pop. Para quem se interessar, pode ouvir online ou fazer o download gratuito.

Abrir link.

 

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2016

Ressuscitar com Kubik

Interrompo a "morte" deste blog por um motivo muito especial. Curiosamente, também para falar de morte. Mas neste caso, para dizer que a morte é aqui entendida como uma homenagem, uma dedicatória sentida ao meu pai, falecido há 8 meses. 
Como músico (projecto Kubik) senti necessidade de lhe prestar uma singela homenagem com uma música original. Só passado este tempo, com o devido distanciamento emocional, consegui compor a música que acompanha este vídeo. As imagens são evocações das memórias e das vivências do meu pai. E sendo uma homenagem, apesar de pessoal, tem mais sentido se for partilhada publicamente. 

Por isso ressuscito, momentaneamente, o meu blog para partilhar convosco esta música "Walking on Air" (a partir do poema "Atmosphere" de Ian Curtis/Joy Division). Depois o blog volta ao descanso eterno (ou talvez não)...

 

sábado, 21 de novembro de 2015

This is really THE END



No próximo dia 27 de Novembro este blog completa 8 anos de existência.
No entanto, lamentavelmente, não vai chegar a essa data porque decidi encerrá-lo de vez.
Explico porquê.

Criei o blog 'O Homem Que Sabia Demasiado' no já longínquo ano de 2007, uma altura em que a blogosfera florescia por todos os lados. Eram poucos os blogs dedicados exclusivamente à causa da cultura e das artes. Este meu blog nunca foi exclusivamente dedicado ao cinema, ainda que tenha sido nomeado duas vezes para prémios de blogs de cinema. Sempre foi um espaço multidisciplinar no qual abordava assuntos que me interessavam: música, cinema, literatura, fotografia, arte em geral (basta ver as etiquetas). Nunca segui sem modas ou tendências da blogosfera. Orgulho-me da coerência de conteúdos que este blog manteve ao longo de quase 10 anos. Os primeiros três anos de actividade foram de intensa publicação, com uma média louca de 90/100 publicações por mês. Os últimos meses tenho publicado uma média de... 15. Ao longo destes anos todos publiquei 4378 publicações, tive milhares de comentários a posts e mais de um milhão e meio de visitas a páginas. Uma grande percentagem de leitores eram brasileiros. 

O balanço geral é positivo: partilhei muita informação e conhecimento, à custa do blog conheci pessoas interessantes, recebi imensos comentários positivos sobre a qualidade do blog, sobre o prazer da divulgação cultural, convidaram-se a escrever noutros espaços virtuais. Até tive um rapaz de 18 anos do Brasil que uma vez me disse que eu era uma espécie de "professor" dele, com tanta coisa que aprendia neste blog. Fazendo uma pesquisa, reparei que no mesmo dia em que assinalei 4 anos de existência, referi que já acusava algum cansaço e ponderava terminar com o blog. No entanto, prossegui mais 4 anos motivado com o feedback positivo generalizado que ia tendo. Há um ano voltei a manifestar cansaço. Aguentei mais um ano... 

Mas convenhamos: eu sei fazer autocrítica e tenho a plena convicção que este blog já não mantinha a mesma qualidade e interesse de há uns anos atrás. No último ano, tenho a noção, tem-se arrastado, muitas vezes, com posts pouco interessantes, repetitivos, só para dizer que estava "activo". E isso significa manter vivo um espaço de forma artificial. Sinto que canalizei toda a minha inspiração e trabalho nos primeiros anos, porque manter vivo e interessante um blog com esta tipologia exige muita persistência, disponibilidade, dedicação, pesquisa permanente. E nos últimos tempos tenho sentido um maior vazio nesse aspecto. A minha própria vida pessoal e profissional tem-me roubado tempo para me dedicar tanto à vida quotidiana do blog.

E depois há a fria estatística: após o boom da blogosfera, o meu blog sofreu um decréscimo de visitas, muito menos comentários de leitores, muito menos partilhas. Ou seja, os meus leitores tornaram-se meramente residuais e ocasionais. Eu percebo isso no contexto de - como já li - "morte da blogosfera" face ao advento massivo de outros meios de informação/comunicação/redes sociais. Se tenho pena de fechar 'O Homem Que Sabia Demasiado'? Sim, tenho. Vou ficar com muito boas memórias. Eu próprio aprendi muita coisa a construir este blog. Mas como tudo na vida, para cada "começo" há um "fim". E chegou o momento do fim deste blog, um fim que eu considero ser provocado por "morte natural". E por estas razões decidi terminar a actividade do blog, evitando que se arraste penosamente qual vegetal virtual.

Uma palavra final para os meus leitores, sobretudo aqueles mais fiéis que me seguiram durante anos e anos: muito obrigado. Foram vocês que mantiveram vivo este espaço de partilha e de comunicação. Não vou ficar totalmente inactivo, uma vez que vou mantendo o espírito do blog na página homónima do Facebook (mas não será a mesma coisa).

Não vou cometer o disparate de eliminar o blog. Seria deitar 8 anos de trabalho para o lixo. Ele ficará online enquanto arquivo vivo. Os cibernautas vão continuar a conhecer este espaço fruto do resultado de pesquisas (o Google reencaminha muitas pesquisas para este blog). Não dediquei milhares de horas em vão, e por isso o resultado deste meu trabalho vai continuar online para quem quiser recolher informação sobre tantos temas e matérias que partilhei neste espaço. Agora toda a informação deste blog fica para a posteridade e é vossa, façam dela o que quiserem (e acreditem que me vai custar clicar, pela última vez, no botão deste post "publicar").

Viva o cinema!
Viva a música!
Viva a arte!
Viva a cultura!

OBRIGADO 
ATÉ SEMPRE!






segunda-feira, 16 de novembro de 2015

As melhores comédias de sempre

E os 100 melhores filmes com os argumentos de comédia são... Bom, adianto apenas que no primeiro lugar está "Annie Hall" (1977) de Woody Allen. Nos restantes nove lugares até chegar ao top ten, há bons filmes de comédia mas também há outros de valor discutível. 
Abri aqui o link.

domingo, 15 de novembro de 2015

Takovsky explicado plano a plano

Para quem quer conhecer melhor toda a estética de Andrei Tarkovksy, e especialmente, o seu filme "Solaris", eis um belo vídeo-ensaio que explica os pormenores do trabalho visual e de realização do cineasta russo:
 

quarta-feira, 11 de novembro de 2015

A visão da Europa de Béla Tarr

A visão em apenas 5 minutos do realizador húngaro Béla Tarr sobre a Europa:

Steve McQueen e o poker



A Mesa do Diabo. Eric Kid Stoner, "The Cincinnati Kid"

Hoje vamos falar de apostas, vamos ver o que o poker pode fazer na vida das pessoas, mas não é somente no poker que se aposta, veja que por exemplo o futebol é o prato principal de praticamente todas as casas de apostas, especialmente aquelas que têm como base a Grã-Bretanha, onde as regras da modalidade foram criadas. Temos também as empresas voltadas ao público brasileiro que fala sobre tipos de apostas em futebol detalhadas. Leia aqui mais sobre o tema. Já nos Estados Unidos temos outras regras e normas relativas às apostas em jogos, ali o elemento legal/ilegal do ato de apostar sempre fez os norte americanos se interessarem e muito sobre esse tópico, e com isso eles sempre tiveram a vontade e também a possibilidade de realizar e transformar as apostas e suas consequências em filme! A partir de agora vamos conhecer mais a fundo um sucesso que você não pode deixar de ver! 

O filme A mão do Diabo com o nome em inglês “The Cincinnati Kid” é um filme do ano de 1965 e conta com o nome da estrela que fazia os corações baterem mais forte, o maior astro norte americano visto entre os anos de 1960 e 1970, estamos falando de Steve McQueen, ele era o ícone masculino para os homens – por ser durão e o sonho de homem para as mulheres – que suspiravam por ele. Na história desta longa metragem vemos que McQueen será aquele que vai viver um jovem jogador de sucesso do Poker, que acreditava ser inclusive o melhor e maior jogador do mundo. Ele vive o personagem que dá o nome ao título do filme “Kid” este é o apelido do prodígio Eric Stoner, que obviamente era muito charmoso e cheio de confiança a ponto de ser arrogante (coisa que os jovens de talento muitas vezes têm). 

O jovem Eric deve se preparar para desafiar o maior jogador de poker dos últimos tempos, o imbatível Lancey Howard (papel interpretado pela excelente ator Edward G. Robinson) Lancey vai representar o ídolo, aquele jogador sem emoções e impecável, que é respeitado por todos. A presença feminina tem um papel muito marcante no filme, terá como representantes a linda namorada de Christian, a atriz sex simbol daquele tempo – Tuesday Weld, e a afirmada atriz Ann Margret, que fez muito sucesso com o filme “Femme Fatale” que tentará de todos os modos seduzir o nosso protagonista. No desenrolar desta história vivida em Nova Orleans, durante o período da depressão econômica nos Estados Unidos, vamos ver muitas traições, seduções e jogos, veremos situações desafiadoras e inteligentes, talvez pode-se dizer que o ícone do malandro apostador padrão aparece neste filme. 

Um dos pontos altos de ver esse filme é a sensação de estar sentado na mesa de poker, apostando em primeira pessoa com o oponente, desta forma falta ao espectador somente sentir o cheiro da fumaça do cigarro dos outros jogadores. Pois a percepção de ser um deles é muito real. Este filme conta com a direção de Norman Jewison. Se você ficou curioso , vale a pena conferir neste link o trailer do filme A Mesa do Diabo.

Paula Silva

segunda-feira, 9 de novembro de 2015

Capas num contexto imaginário

A Aptitude, empresa de web design, imaginou o contexto envolvente de célebres capas de disco. E o resultado deste exercício de imaginação foi este:




Filmes de terror: primeiras e últimas imagens

A dialética entre os primeiros e últimos planos de filmes de terror:

quinta-feira, 5 de novembro de 2015

Canções eternas como esta

Há músicas que parecem eternas, como se o tempo não passasse por elas. Assim acontece com muitas das canções dos magníficos Cocteau Twins. Apesar de ter data de 1982, "Shallow Then Halo" mantém a frescura e a originalidade como se tivesse sido escrita ontem. E depois há a voz sedutora, aveludada e bela de Liz Frazer. 
Já agora, ouçam esta portentosa canção com uma performance vocal invulgar.
 

terça-feira, 3 de novembro de 2015

Por trás de "The Shining"

Em 1966 o cineasta Stanley Kubrick disse a um amigo que um dia iria fazer o "filme mais assustador de sempre". Em 1980 realizou "The Shining" e consegui-o.
O realizador de mini-documentários Gary Leva realizou um documentário de 30 minutos sobre a concepção do filme de Kubrick. Entrevistas a actores, técnicos e críticos, imagens de bastidores, comentários e análises compõem este curto mas fascinante filme que ajuda a compreender o imenso estatuto de culto que ganhou "The Shining".

Abrir o link aqui.

sábado, 31 de outubro de 2015

Viver de trás para a frente



A brincar a brincar, não me importaria:

"Na minha próxima vida, quero viver de trás para a frente. Começar morto, para despachar logo o assunto. Depois, acordar num lar de idosos e ir-me sentindo melhor a cada dia que passa. Ser expulso porque estou demasiado saudável, ir receber a reforma e começar a trabalhar, recebendo logo um relógio de ouro no primeiro dia. Trabalhar 40 anos, cada vez mais desenvolto e saudável, até ser jovem o suficiente para entrar na faculdade, embebedar-me diariamente e ser bastante promíscuo. E depois, estar pronto para o secundário e para o primário, antes de me tornar criança e só brincar, sem responsabilidades. Aí torno-me um bébé inocente até nascer. Por fim, passo nove meses flutuando num "spa" de luxo, com aquecimento central, serviço de quarto à disposição e com um espaço maior por cada dia que passa, e depois - "Voilá!" - desapareço num orgasmo!" 

Woody Allen

quarta-feira, 28 de outubro de 2015

O primeiro filme sonoro... de sempre

Não se trata de um filme no sentido literal, até porque tem apenas 17 segundos de duração. Mas é um registo audiovisual absolutamente histórico: trata-se da primeiríssima captação em filme conhecida de som no cinema, muitos anos antes do clássico "The Jazz Singer" (1927). Corria o longínquo ano de 1894, um anos antes ainda do aparecimento do popular cinematógrafo dos irmãos Lumière.

Este curto registo de cinema gravado por uma rudimentar câmara foi realizado no estúdio de Thomas Edison (um dos cientistas responsáveis pelo desenvolvimento do cinema) e capta o realizador William K. Dickson a tocar violino durante escassos 17 segundos, o suficiente para fazer História.

terça-feira, 27 de outubro de 2015

Remédios musicais para a alma

"Musicoterapia de A a Z" de Pietro Leveratto

Cada um de nós, em certos momentos, precisou de música. Quando o fluir das notas atinge a nossa atenção damo-nos conta de que a música, como uma banda sonora que acompanha cada gesto quotidiano, é necessária. Protagonistas das páginas deste volume são, pois, os sons mais adequados para emoldurar os acontecimentos da vida, eventos e sensações, a beleza e o sofrimento, o desejo e a sua ausência. O leitor poderá reencontrar as melodias que o acompanharam em ocasiões memoráveis ou para esquecer, deparar-se com histórias bizarras, divertidas e autênticas. Ou ir ainda, mais simplesmente, à procura do tema certo para a ocasião certa. 


Quer se trate do pavor de voar, de dependência do trabalho ou da agorafobia, de uma dieta ou de um ataque de tosse ou de vontade de desaparecer, as receitas de Musicoterapia oferecem remédios e conselhos através de sugestões musicais ou graças à experiência de um músico, indo do rock à experimentação contemporânea, da Viena de Mozart à ilha de Tonga, de Schubert a Bob Dylan, da Bossa Nova de Jobim aos Beatles, de Bach a Coltrane. É uma pequena enciclopédia, um repertório, um manual para ficar melhor. Ao som da música. 

domingo, 25 de outubro de 2015

Maureen O'Hara

Maureen O'Hara, diva com cabelo cor de fogo do cinema clássico morreu aos 95 anos. A primeira vez que a vi foi no belo filme "How Green Was My Valley" (1947) de John Ford. Por causa dela (ok, não só por causa dela) este filme tornou-se no meu Ford favorito. Considerava-a uma das mais talentosas e belas actrizes da época de ouro de Hollywood.

sábado, 24 de outubro de 2015

A sociedade segundo Guy Debord

Guy Debord, nascido em 1931, em Paris, suicidou-se em 1994, nas montanhas de Auvergne. Foi filósofo, cineasta e crítico cultural. Co-fundador, em 1957, da Internacional Situacionista, foi seu co-dissolvente em 1972.

Publicado em 1967, o livro "A Sociedade do Espectáculo" é a obra filosófica e política mais famosa de Guy Debord e uma análise impiedosa e arrasadora da invasão de todos os aspectos do quotidiano pelo capitalismo moderno. Uma crítica feroz à sociedade do consumo e do predomínio da imagem. Este livro esteve na base do movimento estudantil do Maio de 68 em Paris. O espectáculo, segundo o autor, é "uma droga para escravos" que empobrece a verdadeira qualidade da vida, é apontado como uma imagem invertida da sociedade desejável, na qual as relações entre as mercadorias suplantaram os laços que unem as pessoas, conferindo-se a primazia à identificação passiva, em detrimento da genuína actividade. Uma teoria que está mais actual do que nunca.

Debord fez um filme em 1973 que mais não é do que a versão audiovisual do livro que o celebrizou, no qual expõe os seus conceitos sobre a ditadura do consumo, da imagem e do espectáculo na sociedade moderna:
 

quinta-feira, 22 de outubro de 2015

O rock enérgico das Savages

O grupo feminino de rock Savages vai lançar um novo álbum no início de 2016 ("Adore Life"). Para aguçar o apetite, acabam de editar o primeiro single: "The Answer" é um espantoso tema de pura e enérgica efervescência rock, provando que as Savages são das melhores propostas de rock dos últimos anos. Tal como os fãs do videoclip (filmado em Lisboa), ao ouvir esta música só apetece saltar em movimentos descontrolados do corpo.
 

terça-feira, 20 de outubro de 2015

O universo perturbador de Ballard

Aqui está uma edição que nenhum admirador do universo literário de J.G. Ballard pode perder: pela primeira vez no mercado nacional é editado "High Rise", em português "Arranha-Céus", escrito em 1975.

O livro decorre no espaço fechado de um arranha-céus onde moram duas mil pessoas, condomínio fechado de onde ninguém precisa de sair para o exterior. Criado o ambiente claustrofóbico e pós-histórico típico do universo ballardiano, este prédio é um simulacro da vida social moderna onde tudo parece correr bem até começarem a surgir os primeiros indícios de crime e violência que vão transformar o arranha-céus numa paisagem primitiva, onde o humano dá lugar a um bestiário de predadores: primeiro atacam-se os automóveis na garagem, depois os moradores. Um incidente conduz a outro e, acossados, os vizinhos agrupam-se por pisos possuídos por instintos animalescos. Quando aparecem as primeiras vítimas, a festa mal começou. É então que o personagem Richard Wilder, realizador de documentários, resolve avançar, de câmara em punho, numa viagem por uma inexplicável orgia de destruição, testemunhando o colapso do que nos torna humanos.

Entre a alucinação e a anarquia, a visão violenta e pessimista de J.G. Ballard oferece-nos um retrato demencial de como a vida moderna nos pode empurrar, não para um estádio mais avançado na evolução, mas para as mais primitivas formas de sociedade.

O romance foi adaptado ao cinema e deve chegar às salas ainda este ano, com a assinatura de Ben Wheatley (tem nos principais papéis os actores Jeremy Irons, Sienna Miller e Tom Hiddleston). No próximo ano, a editora Elsinore conta reeditar "Crash", celebrizado no sublime e perturbador filme homónimo de David Cronenberg.


segunda-feira, 19 de outubro de 2015

O que diz Tarkovski #23

"Na minha infância a minha mãe sugeriu que eu lesse 'Guerra e Paz' e, durante muitos anos, ela citou frequentemente o romance, chamando-me a atenção para a subtileza e as particularidades da prosa de Tolstoi. Desse modo, 'Guerra e Paz' tornou-se para mim uma espécie de escola de arte, um critério de gosto e profundidade artística. Depois desse livro nunca mais consegui ler porcarias literárias que sempre me causaram profundo desagrado."